Foguete prestes a bater na Lua no próximo mês não é um Falcon 9 da SpaceX
Diferentemente do que havia sido noticiado pela circular publicada pelo Projeto Pluto, o objeto que deverá atingir a Lua em 4 de março não se trata do segundo estágio de um Falcon 9, lançado pela SpaceX em fevereiro de 2015. Na verdade, ele pode ser parte de um foguete chinês lançado em 2014.
Segundo anunciado no último sábado (12) pelo astrônomo Bill Gray, que fez a descoberta do impacto, ele cometeu um erro ao identificar a ameaça como um estágio de um antigo foguete SpaceX Falcon 9, que ajudou a lançar o satélite Deep Space Climate Observatory (DSCOVR), até o Ponto de Lagrange L1, que fica a 1,5 milhões de quilômetros de distância, na direção do Sol.
Em vez disso, Gray sugere que o detrito pode ser parte de um foguete Longa Marcha 3C que lançou a missão Chang’e 5-T1 da China em outubro de 2014. Essa espaçonave foi uma antecessora da missão Chang’e 5, de 2020, que fez um retorno robótico de amostras do solo lunar.
Foguete Longa Marcha 3C da China, como o da imagem, pode ser o verdadeiro responsável pela colisão que acontecerá com a Lua no próximo mês. Imagem: Administração Espacial Nacional da China (CNSA)
Trajetória do foguete da SpaceX não se aproximou da Lua, segundo a Nasa
Representação artística do segundo estágio do foguete Falcon 9, com um satélite acoplado à ponta Imagem: SpaceX
O aviso de correção publicado por Gray veio depois que ele recebeu uma nota de Jon Giorgini, engenheiro do Laboratório de Propulsão a Jato (JPL) da Nasa. “Ele [Giorgini] escreveu para Gray no sábado de manhã explicando que a trajetória da nave DSCOVR não chegou particularmente perto da lua, e que, portanto, seria um pouco estranho se o segundo estágio se afastasse o suficiente para atingi-la”, relatou Eric Berger no site Ars Technica, que havia divulgado pela primeira vez a informação há três semanas.
Independentemente de sua história de origem, o estágio do foguete ainda é esperado para bater no lado mais distante da lua em 4 de março às 7h25 EDT (9h25, pelo horário de Brasília). O impacto não será visível da Terra.
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“Solicitado pelo e-mail de Jon, investiguei meus arquivos de e-mail para me lembrar por que eu tinha originalmente identificado o objeto como o estágio DSCOVR em primeiro lugar, sete anos atrás. Eu fiz isso com plena confiança que provaria que o objeto era, de fato, o segundo estágio do DSCOVR”, escreveu Gray em sua atualização.
Ele estava usando dados do Catalina Sky Survey, que geralmente rastreia objetos próximos à Terra para avaliar ameaças ao planeta. Segundo Gray, Catalina encontrou um objeto cerca de um mês após o lançamento do DSCOVR, designado WE0913A, e, a princípio, acredita-se ser um objeto natural.
Brasileiro ajudou na descoberta
“Pouco depois, um astrônomo no Brasil observou em um grupo de notícias que o objeto estava orbitando a Terra, não o Sol, sugerindo que poderia ser um objeto feito pelo homem”, disse Gray. Após algumas conversas com o astrônomo, Gray e outros pesquisadores descobriram que o WE0913A passou pela Lua dois dias após o lançamento do DSCOVR.
“Eu e outros viemos aceitar a identificação com o segundo estágio (do Falcon 9) como correta. O objeto tinha o brilho que esperávamos, e havia aparecido no momento esperado e estava se movendo em uma órbita razoável”, continuou Gray, observando que as evidências eram “circunstanciais” em vez de totalmente conclusivas.
“Em retrospectiva, eu deveria ter notado algumas coisas estranhas sobre a órbita do WE0913A”, admite o astrônomo. “Assumindo que não houvesse manobras, teria sido uma órbita um tanto estranha ao redor da Terra antes do voo lunar. Em seu ponto mais alto, estaria perto da órbita da Lua; no seu mais baixo (perigeu), cerca de um terço dessa distância. Eu esperaria que o perigeu estivesse perto da superfície da Terra. O perigeu parecia bastante alto”.
No início, Gray pensou que essas variações poderiam ser devido ao vazamento de restos de combustível, o que é altamente comum em estágios antigos de foguetes. Dessa forma, tal mudança na trajetória do foguete da SpaceX teria exigido uma quantidade incomum de combustível, embora ainda fosse possível.
Sem explosão cinematográfica
“Eu não tinha uma trajetória para o DSCOVR na época, e o sobrevoo lunar parecia bastante plausível [como] a espaçonave frequentemente usa um sobrevoo lunar para ajustar suas órbitas”, disse Gray.
No entanto, depois de receber o e-mail da Nasa, conforme explicado por Gray, ele procurou nos registros um objeto lançado pouco antes de março de 2015, em uma “órbita alta passando pela lua” que poucas naves espaciais alcançam. Isso o levou à missão Chang’e 5 T1.
Gray alerta que a evidência ainda não é totalmente conclusiva e é baseada na execução de sua órbita projetada através do tempo, mas a confiança adicional vem de Jonathan McDowell, um astrofísico do Centro Harvard-Smithsonian de Astrofísica, que rastreia objetos orbitais e lixo espacial.
“McDowell me enviou os elementos orbitais de um cubesat de rádio amador que ‘pegou uma carona’ com o foguete, e é uma combinação muito próxima”, explicou Gray. “De certa forma, isso permanece uma evidência ‘circunstancial’. Mas eu consideraria isso como uma evidência bastante convincente”.
Podemos esperar uma explosão cinematográfica, com formação de um cogumelo de nuvem de poeira? Não. Segundo Zurita, “como a Lua praticamente não tem atmosfera, o impacto nem propaga o som nem cria nuvem em forma de cogumelo”.