Experiências de Exopolítica na Casuística Ufológica Brasileira
FLORI ANTONIO TASCA
Educador. Filósofo. Jurista. Coordenador do Grupo Ufológico Paraná – PATOVNI. Editor da Revista COSMOVNI. Consultor Jurídico do CIFE.
RESUMO
Em meio aos vários relatos de pessoas que alegam ter tido contato com seres de outros planetas, sobressaem-se aqueles em que o contatado não apenas foi abduzido para o interior de uma espaçonave, mas, inclusive, fez uma viagem a bordo dela e até mesmo visitou o planeta de origem dos seus ocupantes. A ufologia brasileira teve, ainda nos anos 50, três casos que se encaixam nessas características: o de Antonio Rossi, em 1954, o de João de Freitas Guimarães, em 1956, e o Artur Berlet, em 1958. Os três alegam ter viajado em “discos-voadores” e dois deles chegaram a descer no mundo dos alienígenas. Ao retornar, contaram tudo o que viram a respeito de como cada sociedade extraterrestre se organizaram. Apesar de empolgantes, esses relatos evidenciam uma preocupação para os seres humanos, pois, por meio deles, tem-se ciência de que os alienígenas não apenas circulam livremente pela Terra como podem levar seres humanos para os seus planetas, com a possibilidade de nunca mais trazê-los de volta. Civilizações interplanetárias menos éticas teriam assim facilidade para realizar na Terra obras que, aos olhos humanos, configurariam abusos de direitos. Os três casos são úteis para que a humanidade reflita sobre a necessidade de desenvolvimento da Exopolítica e do Exodireito, áreas que ditarão o nosso comportamento quando houver um contato aberto com civilizações de outros planetas.
PALAVRAS-CHAVE
Abduções. Viagens interplanetárias. Exopolítica. Exodireito.
A Exopolítica e os relatos de viagens a outros planetas
Entre os muitos relatos de experiências com extraterrestres que são de conhecimento da humanidade, talvez os que mais agucem a curiosidade e a imaginação das pessoas sejam aqueles que envolvem viagens de seres humanos a outros planetas. Isso porque ainda se sabe pouco a respeito do modo de vida de outras civilizações planetárias. Tem-se como certo que os extraterrestres que visitam a Terra possuem uma tecnologia avançadíssima, se comparada à nossa, mas é difícil para nós imaginar de que maneira eles organizam a sua sociedade. Existem, no entanto, pessoas que afirmam ter tido a extraordinária experiência de visitar outros planetas e por meio delas é possível ter ao menos vislumbres da vida levada nesses lugares.
Relatos com essas características são encontrados também no Brasil, que teve, ainda na década de 1950, alguns casos ufológicos notáveis. Para esta coletânea foram selecionadas três das experiências mais expressivas ocorridas nesse período. Duas envolvem exatamente a ida de um ser humano a uma sociedade extraterrestre em outro planeta, ao passo que outra trata “apenas” de um passeio pelo espaço a bordo de um disco voador. São relatos dos mais interessantes que não foram desmentidos de nenhuma maneira e que, inclusive, contam com indícios que sugerem a veracidade das experiências.
Contudo, à parte do entusiasmo que possamos ter com histórias de viagens em discos voadores e visitas a outros planetas, é preciso também que a humanidade reflita sobre as implicações de um cenário em que seres vindos do espaço podem aterrissar na Terra e levar humanos para passeios e visitas que bem entenderem. Há indícios de que existam civilizações por todo o Cosmos e a humanidade precisa tomar consciência dessa realidade para melhor entender o seu papel e os seus direitos na ordem universal.
Aparentemente, a Terra está às vésperas de ingressar em uma realidade cósmica, com civilizações interplanetárias que interagem entre elas, fato esse que certamente irá mudar os rumos da humanidade. Diante da relevância desse assunto, pesquisas têm sido empreendidas em diversas áreas para estudar os efeitos do contato aberto com extraterrestres, assim como para preparar a humanidade para tal cenário. E uma das áreas mais importantes nesse processo é a da Exopolítica, ou seja, a política voltada às civilizações externas à Terra. Afinal, qualquer posicionamento que a Terra manifeste em relação aos extraterrestres será necessariamente político.
Os três casos emblemáticos de “viagens pelo espaço” protagonizadas por brasileiros na década de 1950 fornecem detalhes úteis para se refletir sobre os aspectos políticos da humanidade em um contexto estelar.
1954 – A experiência de Antônio Rossi
Antonio Rossi era um metalúrgico que residia em São Paulo. No ano de 1954, aos 35 anos de idade, ele viajou com alguns amigos para Paraibuna, no interior do estado, onde pretendiam pescar às margens do rio de mesmo nome. Rossi estava pescando um lugar afastado dos seus outros amigos quando, subitamente, viu duas criaturas estranhas a cerca de 30 metros de distância e que vinham na sua direção. A reação do pescador foi de pavor. Contudo, ele se acalmou à medida que percebeu que os seres se aproximavam de forma bondosa. Os dois eram altos, atléticos e pareciam estar nus. Seus olhos eram grandes e suas cabeças tinham um formato oval.
Quando as duas criaturas chegaram perto do pescador, ele perguntou se desejavam alguma coisa, mas não houve resposta – pelo menos não do modo tradicional. Um dos seres levantou o braço e apontou para os seus próprios olhos. Então Rossi percebeu que estava ouvindo alguns sons na sua cabeça: o ser estava se comunicando com ele por telepatia. Disse que eles vinham em paz e que queriam convidá-lo a visitar o seu planeta. O ser garantiu que levaria apenas algumas horas e que o trariam de volta como o haviam encontrado. Também foi dito que ele poderia relatar tudo o que viu e aprendeu com eles. O pescador hesitou bastante, mas decidiu confiar no que diziam os seres e aceitou o convite que lhe fizeram (MAUSO, 2011).
Em seguida, foi levado a um disco voador de cor cinza, com cerca de 9 metros de altura até a cúpula, que pairava no ar. Entrou por uma porta e lá avistou outro ser parecido com os anteriores. Deram a ele uma bebida sob a justificativa de que seria imprescindível para fazer a viagem. Mesmo temendo que fosse algum veneno, tomou o líquido. Observou ao redor e viu muita luz dentro do disco voador, sem identificar a origem. Havia um painel sem fios, tomadas ou ligações, além de dispositivos desconhecidos.
A viagem teve início e, enquanto ela acontecia, os seres conversavam mentalmente com o pescador, falando sobre características do seu planeta, como a sua alimentação saudável e a prática de esportes. Quando a nave se aproximou do seu destino, Rossi vislumbrou uma cidade em forma oval e que parecia feita de vidro. Havia uma verdadeira comitiva para recebê-los. E então ele teve a oportunidade de conhecer a estrutura da sociedade que vivia naquele planeta, onde todos os serviços eram coletivos e gratuitos e não havia dinheiro ou guerras. Havia ali “volitores coletivos”, veículos que circulavam a 1500 Km/h, além de casas redondas e transparentes, com jardins floridos e sem janelas. Os mais diversos aspectos do planeta foram apresentados a ele por meio de um guia identificado como Doutor Jânsle.
Interessante a constatação de que, mesmo sendo um povo pacífico, os habitantes daquele planeta dispunham de uma arma poderosíssima, um raio laser luminoso e potente capaz de desintegrar a Terra em 20 minutos, como revelou o guia de Rossi. Também foi mostrado um “projetor mental” que permitia visualizar o conteúdo mentalizado. O Doutor Jânsle também fez algumas “profecias” sobre a Terra, sugerindo que em 2030 haverá uma verdadeira metamorfose moral e física no planeta, com mudanças radicais em todos os setores da sociedade humana. A própria expectativa de vida do ser humano aumentaria em cerca de 40 anos e haveria recursos naturais em quantidade suficiente para alimentar um total de 16 bilhões de habitantes (MAUSO, 2011). O guia também alertou sobre a necessidade de proteção da fauna e da flora da Terra – na época, isso ainda não era tão valorizado.
Depois de muito ver e aprender sobre aquele lugar, Rossi foi levado de volta à Terra, em viagem similar à ida. Ele foi deixado no mesmo lugar onde o encontraram. Seu tempo total de “sumiço” da Terra foi de aproximadamente de 17 horas. Haviam pedido a ele que não contasse nada sobre o que viveu por oito dias. Depois desse período, ele contou o caso aos seus amigos pescadores, mas eles não acreditaram na história.
Três anos depois, em 1957, Rossi publicaria o livro “Num disco voador visitei outro planeta”, que teve pouca repercussão à época. Já no ano de 1987, Rossi relata um novo encontro com o Doutor Jânsle. Naquela ocasião, ele acordou durante a noite e seu cérebro recebeu uma espécie de clarão. Formaram-se em sua mente imagens de um local que ele conhecia e ele se dirigiu para lá, onde encontrou o alienígena. O Doutor Jânsle deu a entender que estavam de passagem pela região eque podiam conversar por duas horas, o que foi feito. Despediram-se afetuosamente, com a promessa do alienígena de que se veriam quando se despojassem da matéria.
Trata-se, como se vê, de um caso singularíssimo, pois, mais do que avistar nos céus um UFO, e mais até do que ser abduzido por um deles, Rossi teria experimentado uma verdadeira viagem a outro planeta, algo que a nossa atual ciência apenas pode projetar, sem ter ainda capacidade técnica para semelhante feito. Se o relato do metalúrgico paulista é realmente procedente, há implicações das mais diversas para a nossa sociedade.
Inicialmente, a experiência de Rossi confirmaria a existência de vida inteligente em outros pontos do Universo. Mesmo sendo cética em relação aos relatos ufológicos, a ciência, de modo geral, considera praticamente uma inevitabilidade matemática que a vida inteligente tenha emergido em outros planetas além da Terra. O relato de Rossi comprovaria essa teoria.
Ao mesmo tempo, o relato demonstraria que a hipótese alienígena é realmente a explicação correta para o contínuo avistamento de UFOs por pessoas do mundo inteiro. Afinal, foi por meio de um UFO que os seres do outro planeta chegaram à Terra e foi para dentro de um veículo associado facilmente a um disco voador que eles conduziram Rossi, transportando-o em seguida para o seu mundo de origem. Viagens como essas poderiam ser eventualmente “flagradas” por seres humanos olhando para o céu. Assim, os UFOs, quando legítimos, revelariam a presença alienígena na Terra.
Mas, mais do que oferecer respostas para algumas questões que há muito intrigam a humanidade, a experiência de Rossi tem consequências para a própria organização da nossa sociedade, pois o conhecimento de que existem extraterrestres e que eles interagem com o nosso planeta exige que adotemos uma postura política correspondente a essa nova realidade.
A Exopolítica é justamente a área do conhecimento que está voltada ao estudo da interação entre o ser humano e possíveis civilizações de outros planetas. Um dos postulados de Alfred Webre (2012), considerado um dos pais da Exopolítica, é justamente o de que existem múltiplas civilizações cósmicas, uma verdadeira rede interplanetária da qual a humanidade estaria tomando conhecimento apenas agora. Com suas pesquisas, Webre favorece a ideia de que devemos buscar meios de ingressar nesse contexto estelar.
Embora o relato de Rossi referencie apenas uma civilização extraterrena, subentende-se que não há razão para que ela seja a única no Universo. O próprio fato de aquela civilização contar com uma arma poderosíssima é capaz de sugerir a existência de várias outras civilizações, Afinal, não se imagina que tal armamento tenha sido construído simplesmente para fazer frente a nós, terráqueos, que certamente não temos condições de enfrentar uma civilização tão avançada tecnologicamente como a deles. As ameaças que justificaram a criação dessa arma, muito provavelmente, têm origem em outras civilizações, em patamar evolutivo semelhante.
Embora tenham a capacidade até de destruir planetas, nota-se que os habitantes da civilização visitada por Rossi não o farão senão em situações extremas e motivados pela necessidade de autopreservação. Ou seja, ao que parece eles jamais empregariam as suas tecnologias avançadas para obter o domínio de outras civilizações. Trata-se, afinal, de uma sociedade pacífica, em que, como foi informado a Rossi, não existem guerras, de modo que não se justificaria também nenhum projeto de dominação do Cosmos. Os habitantes do planeta visitado seguem determinada conduta moral e o modo como eles se comportam favorece outra das teses sustentadas por Webre.
Isso porque ele acredita que a miríade de civilizações existentes pelo Cosmos, por mais distintas que pareçam entre si, obedece a determinados princípios, normas e direitos comuns a todas elas. Apenas dessa maneira, com uma orientação moral única, é que se pode reivindicar, como Webre faz, a existência de um “governo universal”, ao qual todas as civilizações cósmicas estariam sujeitas. As civilizações seguiriam caminhos mais ou menos semelhantes de evolução e se orientariam por uma espécie de lei natural, idêntica para todos os povos, aprendida por meio da razão e que emanaria de um poder divino. Trata-se de uma concepção próxima ao que, no Direito, é entendido como “jusnaturalismo” ou “Direito Natural”,(GUIMARÃES, 1991), mas aplicada em um contexto cósmico.
O que favorece essa tese de Webre, no caso da experiência ufológica de Rossi, é que existe correspondência entre os valores praticados pelos habitantes do planeta que ele visitou e aqueles cultivados aqui na Terra. É evidente que a humanidade ainda não chegou ao ponto em que as guerras tenham sido eliminadas, mas, por outro lado, já prevalece o entendimento de que o ideal é alcançar uma realidade em que as guerras tenham cessado. Nesse sentido, a busca do ser humano por um mundo de paz seria a mesma dos habitantes do planeta visitado por Rossi, com a única diferença de que eles estão à nossa frente e já conseguiram um patamar que ainda buscamos.
Webre mesmo não chega a esmiuçar quais seriam exatamente os princípios e as normas seguidos universalmente, apenas sugerindo que eles se aproximam do amor e da luz gerados pela fronte criadora, que para ele é o próprio Deus. De todo modo, relatos como o de Rossi podem ser úteis para verificar aspectos dessa possível “lei universal”, conforme sejam encontradas coincidências entre o que humanos e extraterrestres valorizam.
Além da questão da paz, nota-se que a civilização visitada por Rossi possui um senso de coletividade muito mais forte, o que indica que eles já teriam, também, conseguido ultrapassar a necessidade de competição que, aqui na Terra, ainda marca boa parte das nossas relações. Idealmente, o ser humano tende a concordar com a justiça das medidas e dos serviços feitos de maneira coletiva, de modo que, também nesse aspecto, o funcionamento daquela sociedade extraterrestre poderia espelhar um princípio universal.
A inexistência de dinheiro naquele planeta, se bem que seja uma característica muito difícil de imaginar na Terra atualmente, atende a um propósito que é comum também aos seres humanos, ou seja, a igualdade entre todas as pessoas, suprimidos os privilégios de classes, e o livre acesso aos bens, produtos e conquistas coletivas da sociedade. Ao mesmo tempo, se há a necessidade de se defender com armamentos tão poderosos que são capazes até de desintegrar um planeta, subentende-se que não são todos os povos do espaço que agem conforme essa lei universal que prima pela paz, pelo amor e pela coletividade. Talvez alguns até a conheçam, mas não a respeitem. Esse poderia ser o caso da própria Terra, se alcançasse um grau elevado de domínio tecnológico antes de atingir suficiente evolução moral.
Se acreditamos que essa civilização visitada por Rossi está realmente em um nível superior ao nosso e que segue princípios justos e aplicáveis em todo o Universo, inclusive aqui na Terra, então certamente convém à humanidade prestar atenção ao modo como aquela sociedade se organiza para que também entre nós sejam dados os necessários passos políticos e sejam concentrados esforços para conseguir resultados semelhantes. Bem se vê a importância da Exopolítica, que orientará a interação com outras espécies e com isso pode acelerar o nosso processo de desenvolvimento.
Webre acredita que, durante muito tempo, a Terra esteve em um processo de “quarentena”, motivo pelo qual estaria isolada da comunidade cósmica, mas que tem havido um processo de “aclimatização”, visando a um eventual retorno do nosso planeta à sociedade interestelar. Com isso, estariam justificadas as milhares de ocorrências ufológicas testemunhadas pela humanidade nas últimas décadas, sobretudo após a década de 1940.
A experiência de Rossi se inseriria nesse contexto em que civilizações de outros planetas começam a preparar a humanidade para o momento em que ela se dará conta de que não está sozinha no Universo, onde é apenas mais uma entre muitas outras civilizações, e sequer é das mais avançadas. A conduta dos extraterrestres, no entanto, não se limitaria a anunciar algo como “estamos aqui”, pois no caso de Rossi, como em muitos outros que a Ufologia já registrou, eles também deixam mensagens para a humanidade, alertando-a sobre o risco de condutas que estão sendo tomadas na Terra. Novamente, se acreditamos na superioridade de tais civilizações, conviria que a humanidade adotasse políticas que considerasse os seus conselhos.
Embora se reconheça as potencialidades benéficas da interação com civilizações de outras planetas, também se deve admitir que determinadas atitudes de extraterrestres talvez não atendam aos interesses da humanidade e à sua própria integridade. Salla (2012), também considerado um dos pais da Exopolítica, é um dos expoentes de um lado um pouco mais sombrio da interação da Terra com múltiplas civilizações interplanetárias. As pesquisas dele sugerem que a humanidade já travou conhecimento formal com os extraterrestres há muito tempo, mas que isso se deu às ocultas, envolvendo apenas autoridades dos Estados Unidos da América (EUA), reconhecidos como a nação mais poderosa da Terra. Grupos alienígenas, sobretudo a partir da década de 1950, teriam se apresentado a governantes dos EUA e proposto “acordos” com a humanidade.
Apesar de não serem conhecidos os termos de tais acordos, acredita-se que permitissem aos extraterrestres a pesquisa e o estudo de humanos, inclusive por meio de abduções. Em contrapartida, eles ofereceriam apoio ao desenvolvimento tecnológico dos EUA. Por mais poderosos que sejam, os EUA não poderiam fazer frente aos aliens, que teriam inclusive explorado o medo de que a humanidade descobrisse a realidade sobre as muitas civilizações existentes no Universo.
Então, quando se analisa um caso de abdução, qualquer que seja ele, é interessante ter em mente também essa outra perspectiva, a de que talvez já existam acordos envolvendo humanos e extraterrestres e eles podem não ser muito favoráveis a nós. Ao mesmo tempo, ainda que tais acordos não existam, a conduta dos alienígenas não necessariamente estará conforme com o que a humanidade espera. Se não quisermos ter direitos violados por civilizações externas, é fundamental que a humanidade se organize e passe a adotar uma postura política adequada ao lidar com seres vindos de outros planetas, preservando os valores que considerarmos inegociáveis. Nesse contexto, é fora de dúvida o papel relevante reservado à Exopolítica.
Ao se analisar o caso específico de Rossi, porém, a impressão é a de que os extraterrestres que o buscaram para um passeio em seu planeta não eram de uma civilização especialmente da nossa à Terra. A favor dessa tese está o fato de que Rossi não foi abduzido, contra a sua própria vontade, e sim convidado a entrar na nave e visitar o seu planeta. Ou seja, subentende-se que, teoricamente, se ele não quisesse ir, os extraterrestres também não o forçariam. Essa civilização tratou Rossi de maneira respeitosa, sendo que a sua consideração pelos habitantes da Terra pôde ser verificada, também, quando deu conselhos e profetizou tempos melhores para a humanidade.
Assim, imagina-se que esses extraterrestres não estariam entre os que mantêm acordos secretos com o governo norte-americano, ou, ao menos, ela não mantém um acordo que seja essencialmente prejudicial à Terra. Ao contrário, o relato de Rossi permite vislumbrar uma civilização virtuosa e com a qual a humanidade pode contar. Salla (2012) defende justamente que a humanidade seja capaz de diferenciar as civilizações extraterrestres que agem de forma ética das que não agem, pois deve haver muitas diferenças entre elas. Tal distinção orientaria o nosso próprio posicionamento político em um Universo que se acredita densamente habitado por vida inteligente.
Embora se reconheça que a civilização visitada por Rossi deveria ser incluída entre as éticas, é interessante observar ainda a história sob outra perspectiva. O relato sugere que os “discos voadores” circulam com muita naturalidade no espaço aéreo da Terra, sendo que, na maioria dos casos, não parecem deixar rastros em radares. De algum modo, os extraterrestres conseguiriam driblar o monitoramento feito por seres humanos e entrar em territórios pertencentes a governos específicos, sem demonstrar qualquer preocupação em contar a eles sobre as suas pretensões. Simplesmente, eles viajariam à Terra, pousariam em determinado lugar, conversariam e mesmo levariam pessoas sem se preocupar com questões de soberania ou Direito.
Se uma civilização ética é capaz de agir desse modo, com muito mais razão se deve imaginar que agem assim as não éticas, as quais, talvez, não demonstrem o mesmo respeito pelos seres humanos que encontram. Então o cenário revelado pela viagem de Rossi deve ser motivo de alerta para a humanidade, pois sugere que seres humanos já possam estar sendo vítimas de abusos cometidos por outras civilizações que visitam a Terra sem deixar marcas visíveis. Deve-se concentrar esforços em aprender mais sobre como “funciona” o relacionamento entre as civilizações interplanetárias para que a Terra possa tomar consciência do seu papel e fazer valer os seus direitos. Com isso se percebe toda a emergência das pesquisas sobre a Exopolítica.
1956 – A experiência de João de Freitas Guimarães
A década de 1950 no Brasil foi especialmente pródiga em eventos ufológicos. Dois anos depoisdo caso Rossi, em julho de 1956, aconteceria um novo caso, igualmente intrigante, embora, dessa vez, não tenha havido uma viagem de alguém da Terra a outro planeta, mas “apenas” um passeio em um disco voador. O episódio aconteceu com o advogado paulista João de Freitas Guimarães, então com 47 anos de idade. No dia 16.07.1958, ele se deslocou de carro de Santos a São Sebastião, no litoral norte de São Paulo, onde iria resolver questões de trabalho. Como chegou já ao anoitecer em São Sebastião, decidiu que iria se hospedar em um hotel próximo à praia e deixar para resolver as questões do trabalho no dia seguinte.
Depois de jantar no hotel, Guimarães saiu para andar à beira-mar. Em determinada altura, decidiu se sentar na areia da praia. Foi quando ele avistou alguma coisa emergindo do canal à sua frente. A princípio, pensou que pudesse ser uma baleia. Entretanto, conforme o objeto se aproximava da praia, o advogado percebeu que era algum tipo de embarcação, parecida com um submarino. O tamanho estimado da embarcação era de 20 metros de cumprimento e 6 de altura. Além de tudo, tinha um cheiro desagradável.
Do interior desse veículo, saíram dois seres altos, de cabelos lisos e louros até os ombros. Eles vestiam um macacão verde e tinha um aspecto jovial. Ao vê-los, Guimarães buscou conversar com eles, perguntando se o veículo havia tido alguma pane e se precisavam de alguma ajuda. Como os seres pareciam estrangeiros, ele se arriscou a perguntar em outros idiomas também, mas sem obter resposta. Então um dos seres se comunicou com ele por telepatia, convidando-o a fazer um passeio celeste naquilo que até então parecia uma embarcação. Guimarães aceitou, também por telepatia, e na sequência foi conduzido até a máquina (EQUIPE UFO, 2011).
Lá dentro, viu muitos aparelhos e instrumentos cujo funcionamento ele não podia compreender, mas mais tarde iria descobrir que um deles era equivalente aos nossos radares. Havia ao menos cinco tripulantes. Quando a porta da nave se fechou, Guimarães pensou se não havia cometido uma imprudência ao aceitar o convite dos seres. Contudo, essa sensação iria desaparecer à medida que ele se maravilhava com o que enxergava lá fora. A luz do sol batia sobre as nuvens e fazia um espetáculo digno de ser visto. Embora estivesse rápida, parecia que a nave estava parada e as nuvens é que se moviam. Houve então um trepidar que assustou o advogado, mas lhe informaram que haviam deixado a atmosfera da Terra, entrando assim em outro regime de navegabilidade. Lá fora, astros brilhavam com ainda mais intensidade. Havia alternâncias de claro e escuro, dia e noite, luz e sombra, e tudo oferecia cenas belíssimas que muito maravilharam o passageiro.
Depois de cerca de 40 minutos, ele foi levado de volta ao mesmo local onde os alienígenas o haviam encontrado. Um novo encontro entre eles foi agendado para agosto do ano seguinte. Entretanto, tal encontro não aconteceria. Pouco antes da data marcada, Guimarães havia contado a um amigo a respeito do encontro e inclusive o convidando a ir junto com ele. Acontece que esse amigo resolveu contar a história à imprensa, agregando inverdades. Em seguida, Guimarães passou a ser procurado por dezenas de jornalistas e não faltou quem visse no episódio algum tipo de armação para que ele se candidatasse a algo ou vendesse algum livro. Havendo um alerta de que espaçonaves alienígenas entrariam no espaço brasileiro dali a alguns dias, o próprio serviço de Defesa foi mobilizado e recomendou ao advogado que não fosse ao encontro marcado, porque eles tinham recebido ordem de abater qualquer aparelho suspeito que fosse avistado. De fato, uma esquadrilha de aviões militares já havia sido mobilizada (EQUIPE UFO, 2011). Assim, o segundo encontro com os extraterrestres não tinha como acontecer. Guimarães não compareceu e, ao que parece, nem os seres de outro planeta – pelo menos, nada de estranho foi detectado naquele dia.
Como motivação para o inusitado encontro que teve, o advogado acredita que estava relacionada aos problemas e ameaças pelas quais a Terra passava. Vivia-se o constante medo de que bombas atômicas fossem detonadas outra vez, precipitando uma guerra que talvez fosse definitiva à humanidade. A ação dos seres humanos estaria ameaçando a própria ordem planetária, de maneira que a intenção dos alienígenas poderia ser a de chamar a atenção da Terra para outros aspectos da nossa realidade. A vida não se limitaria ao que se passa no nosso planeta e mesmo as ações que aqui tomamos precisariam levar em consideração o contexto estelar.
O relato de Guimarães guarda certas semelhanças com o de Rossi, não apenas pelas suas peculiaridades, mas, também, pelo que representa à humanidade. Afinal, também esse caso serve para, de início, demonstrar a possibilidade de existirem múltiplas civilizações cósmicas, como preconiza Webre (2012). Se ambos os relatos são verdadeiros – e durante mais de seis décadas não foi possível descartá-los –, então significa que há mais de uma civilização alienígena entrando em contato com seres humanos, sugerindo, do mesmo modo, que sejam várias outras existentes por todo o Universo.
Também esse relato reforça que a hipótese alienígena é legítima para o avistamento de OVNIs, mas vai além, pois também sugere que alienígenas estejam realmente por trás do fenômeno OSNI, que se refere aos objetos submarinos não identificados – afinal, o veículo surgiu na água e pareceu a Guimarães um submarino quando o avistou mais de perto. Isso sugere, então, que não apenas o espaço aéreo já esteja ocupado por seres de outros planetas, mas também o espaço submarino, sem que quase nenhum vestígio seja deixado às autoridades da Terra que cuidam de tais áreas. Uma tecnologia muito avançada seria a responsável por se ocultar dos humanos, o que pode ser especialmente perigoso no caso de civilizações não éticas.
Ao que tudo indica, contudo, também a civilização que se mostrou a Guimarães seria incluída entre as éticas, conforme a distinção sugerida por Salla (2012). Assim como no caso de Rossi, não se tratou de uma abdução, mas de um convite para que ele entrasse no veículo e fosse com aqueles seres para um passeio pelo espaço. Nota-se, portanto, que há uma consideração pelo livre arbítrio do ser humano. Ao mesmo tempo, não há muita preocupação com o que possam determinar as leis dos governos da Terra, pois, aparentemente, os extraterrestres não esperam autorizações para ocupar os espaços necessários à realização de suas missões no planeta.
Como Guimarães não chegou a visitar o planeta daquela civilização, não se sabe exatamente como está estruturada aquela sociedade, o que seria interessante para verificar de que maneira ela pode espelhar ou não valores praticados na Terra e a possível moral universal que é sugerida por Webre (2012). Mas é verdade também que, em todo o relato, não há nada capaz de contradizer a moral desses extraterrestres específicos em relação aos que se apresentaram a Rossi, existindo a possibilidade de que tenham valores similares e que reflitam a mesma origem, comum a todas as civilizações.
A conclusão de Guimarães a respeito das motivações possíveis para o seu passeio está perfeitamente alinhada com aquilo que foi dito a Rossi sobre o futuro e os desafios a serem enfrentados pela Terra. Vivia-se uma época particularmente tensa nas relações políticas em nosso planeta e as intervenções ufológicas desse período parecem apontar precisamente para os perigos da autodestruição. Em ambos os relatos, seria uma estratégia de chamar a atenção da humanidade para a realidade da existência de vida em outros planetas e, ao mesmo tempo, um apelo para cuidarmos do nosso.
Seja porque já havíamos alcançado determinado grau de evolução tecnológica, seja porque essa mesma tecnologia parecia colocar em risco o equilíbrio do nosso próprio sistema solar, a aparição de extraterrestres em nosso meio significaria que está em curso um processo de aclimatização a essa realidade, depois de, possivelmente, milênios de “quarentena”, como a Exopolítica acredita que a Terra esteve. Haveria agora um movimento da parte “deles” buscando a reaproximação da nossa civilização ao contexto cósmico que, talvez, possa ter sido a nossa própria origem.
O novo encontro que Guimarães alega ter marcado com os seres de outro planeta não aconteceu e, por meio desse episódio, pode-se vislumbrar quais não devem ser as reações políticas da humanidade diante do cenário em que extraterrestres estariam circulando pela Terra. Nota-se que houve uma “espetacularização” do encontro, com o relato de Guimarães sendo aumentado ou mesmo desvirtuado, simplesmente para chamar a atenção do público em geral. Não havia uma preocupação em informar ou esclarecer a respeito do que foi vivido pelo advogado e muito disso, aparentemente, era consequência de as pessoas ainda saberem pouco sobre extraterrestres. Uma lição que se tira é que é preciso se ater às informações verídicas e que qualquer abordagem sobre o tema deve oferecer uma visão equilibrada a respeito da vida extraterrestre, livre de qualquer tipo de sensacionalismo.
Certamente, nesse processo é necessário que a humanidade estude e se aprofunde cada vez mais na busca por conhecimento sobre o que existe no Universo, pois assim estaremos mais conscientes e dificilmente iremos agir com a histeria que se observou no caso Guimarães. A Exopolítica é um desses caminhos para aumentar a consciência da humanidade sobre o tema, além de evitar as reações totalmente desproporcionais e disparatadas, como foi o envio de caças para abater qualquer UFO avistado no céu. Não é essa a resposta política adequada, sobretudo quando se trata uma espécie que não havia dado qualquer motivo para questionar suas boas intenções. É duvidoso que fosse uma civilização com acordos secretos com o governo norte-americano ou com qualquer outro.
Além do mais, é pouco provável que a humanidade tenha condições de fazer frente a qualquer civilização tão avançada a ponto de poder enviar espaçonaves e “submarinos” ao nosso planeta. Em um contexto multifacetado como deve ser o Cosmos, parece recomendável que se busque aliados entre aquelas civilizações aparentemente éticas, a fim de que seja possível resistir àquelas que eventualmente não o forem. Como os alienígenas em geral parecem ser muito discretos durante as investidas em nosso planeta, provavelmente os seres que convidaram o advogado não voltaram a aparecer quando viram o “comitê de recepção” que os esperava. E talvez a humanidade tenha perdido com isso algumas oportunidades.
1958 – A experiência de Artur Berlet
Aquela década de 1950 foi realmente muito marcante em relatos de “viajantes do espaço” no Brasil pois, menos de dois anos depois, ocorreu outro caso extraordinário. Trata-se da experiência de Artur Berlet, que aconteceu em Sarandi/RS em 14.05.1958. Berlet, que trabalhava como tratoristana prefeitura municipal, voltava para casa a pé e, quando passava ao lado de uma fazenda, viu a cerca de 200 metros uma luz forte e brilhante pairando no ar. Aproximou-se e viu que a luz vinha de um objeto de cerca de 30 metros de diâmetro e com o formato de dois pratos sobrepostos. Nem percebeu que estava sendo observado por indivíduos que usavam um objeto similar a uma lanterna, o qual emitia um feixe de luz que o fez desmaiar.
Acordou em um leito parecido como o de hospital. Havia pessoas ao seu redor, mas não conseguia se comunicar com elas. Foi conduzido para fora da sala e então percebeu que estava em uma estranha cidade, repleta de prédios muitos altos e tão resplandecentes que pareciam cegá-lo. Então ele foi levado a uma espécie de assembleia com vários seres estranhos. Tentou novamente se comunicar com eles, experimentando idiomas diversos, até que um dos seres entendeu quando ele falou em alemão. Foi levado então a um ser que dominava o alemão e todas as conversas que teve no planeta se deram nesse idioma. Berlet havia aprendido o idioma com seus pais, de ascendência alemã, ao passo que o ser havia escolhido aprender esse entre os idiomas da Terra.
Soube então que estava em um planeta chamado Acart. O ser, que atendia pelo nome de Acorc, tratou de tranquilizá-lo afirmando que não corria qualquer perigo e que seria bem recebido no planeta. Berlet soube então que a sua “captura” havia sido acidental. Os seres estavam colhendo mostras de trigo da Terra para verificar a possibilidade de plantá-lo em seu planeta quando Berlet apareceu e o comandante da nave alienígena tomou-o por um agricultor que poderia ajudá-los com o plantio do trigo e então decidiu trazê-lo a bordo. Entretanto, a atitude do comandante violava regras que o povo de Acart havia estabelecido para o tratamento com outras civilizações e por isso o oficial seria punido (BERLET, 2010). Fato é que Berlet havia sido levado a outro planeta e agora os acartianos precisavam lidar com ele.
Acorc passou a explicar várias características do planeta a Berlet. Em Acart também não havia dinheiro, como não havia países e nem partidos políticos. Ao mesmo tempo, Berlet via aparatos tecnológicos notáveis, a exemplo de um possível smartphone. O alienígena revelou que eles acompanhavam há muito tempo o desenvolvimento da Terra, inclusive captando seus programas de rádio e televisão. Contou que eles tinham uma espécie de “neutralizador de visão” com o qual podiam agir na Terra sem serem percebidos pelos habitantes locais. Mas Acorc parou de dar detalhes tão específicos depois que recebeu uma ligação. É que um conselho iria avaliar a situação de Berlet para saber se podiam enviá-lo de volta à Terra ou se representava um perigo para Acart e por isso teria que permanecer naquele nesse mundo alienígena para sempre. O receio era de que Berlet repassasse um conhecimento para o qual a Terra não estava preparada.
Berlet, contudo, logrou convencer esse conselho de que era homem simples e de pouca cultura, motivo pelo qual, aqui na Terra, dificilmente lhe dariam crédito por qualquer coisa extravagante que viesse a contar. O presidente daquele planeta, conhecido como “Filho do Sol”, curiosamente, recomenda que Berlet escrevesse a respeito do que viu, mesmo que somente no futuro o relato fosse compreendido pela humanidade. E então Acorc recebeu a missão de continuar mostrando a Berlet as características daquele planeta.
O gaúcho tomou conhecimento de que Acartenfrenta um problema de superpopulação e escassez de alimentos e que a própria Terra é vista como uma das possíveis saídas para os habitantes do planeta. Isso porque os acartianos acreditam que, em algum momento, acontecerá uma guerra nuclear na Terra que deixará poucos sobreviventes. Nessa oportunidade, os habitantes de Acart pretendem ocupar e reconstruir a Terra. O que eles não podem fazer é invadir a Terra abertamente, mas foi explicado a Berlet que, no caso de uma destruição provocada pelos humanos, nada impediria que eles viessem e ocupassem o nosso planeta (BERLET, 2010).
Se quisessem, os acartianos poderiam acabar rapidamente com a vida na Terra, pois Berlet também foi informado de que possuem como arma um “neutralizador de raios solares”, o qual torna sem vida tudo o que estiver a uma distância de cinco mil quilômetros. Porém, como acreditam em um Deus e em certos princípios universais, os acartianos jamais se valeriam de tal arma para provocar uma destruição na Terra. Ao mesmo tempo, também ficou claro que não intervirão contra uma “autodestruição” dos humanos.
Berlet passou alguns dias vendo e aprendendo sobre o modo de vida dos acartianos até que foi levado de volta à Terra. O seu retorno apresenta uma característica especialmente marcante, porque, quando a nave já se aproximava do nosso planeta, Berlet pôde visualizar a Terra do espaço e observou que ela era azul. Tal conclusão seria a mesma do astronauta russo Yuri Gagarin quando viajou ao espaço em uma missão soviética, mas isso só aconteceria em abril de 1961, de modo que Artur Berlet descobriu qual era a cor da Terra vista do espaço com quase três anos de antecedência em relação à comunidade científica, o que dá ainda mais crédito ao seu relato.
Ao chegar à Terra, Berlet teve que voltar a pé para casa, a fim de que o seu organismo se recuperasse gradualmente da diferença de gravidade. Em casa, começou a escrever o que se transformaria no livro “Os discos voadores – Da utopia à realidade”, em que conta o que viu e, assim, atende também à sugestão feita pelo próprio Filho do Sol, líder dos acartianos. No total, consta que Artur Berlet ficou “desaparecido” por 11 dias terrestres.
Esse relato surpreendente fornece farto material para se pensar nas relações existentes entre humanos e alienígenas. Os acartianos são outra civilização a interagir com humanos, presumivelmente distinta daquelas que entraram em contato com Rossi e Guimarães, o que reforça a tese de que vivemos em um universo superpovoado, e mais, que a própria Terra é objeto de visitação de várias delas. No relato de Berlet, porém, é possível ter uma visão mais detalhada sobre a atuação dos extraterrestres na Terra.
Foi revelado a Berlet que os habitantes de Acart acompanhavam há muito tempo o que se passava na Terra, inclusive captando sinais de rádio e televisão. Em meio às explorações que faziam pela Terra, os acartianos se valiam de um aparelho que os tornava invisível aos olhos dos humanos, de maneira que podiam agir sem ser perturbados. Mesmo assim, preferiam lugares mais protegidos e agiam à noite. Acorc confessou que por vezes quase foram descobertos, mas conseguiram sair sem problemas.
As implicações desse relato são muito sérias, pois significa que já há muito tempo alienígenas circulam livremente entre nós, usando recursos tecnológicos para não serem percebidos. Embora se possa alegar que o motivo de agirem às ocultas seja o de não precipitar uma revelação à qual a humanidade talvez não esteja preparada, é legítimo cogitar que outra razão seja o fato de fazerem coisas com as quais nós não concordaríamos. Aparentemente, essa civilização não é uma das que Salla (2012) afirma ter acordos celebrados com autoridades norte-americanas, pois, se assim fosse, teriam a sua atuação favorecida na Terra, mas, de todo modo, verifica-se que a humanidade pode estar exposta, sem saber, à exploração alienígena.
Embora não se tenha muitos detalhes sobre o tipo de estudo feito pelos nativos de Acart aqui na Terra, depreende-se do próprio episódio da abdução de Berlet que eles podem colher mostras do solo e sementes para posterior plantio em seu próprio planeta. Sob a perspectiva humana, o ato desses alienígenas poderia significar uma invasão de propriedade e furto de produção. Não se sabe quais outras mostras podem ter sido colhidas por toda a Terra, mas, por menores que tenham sido, um produtor rural estaria no seu direito se reclamasse aquilo que lhe foi tomado. O que não se sabe é a quem poderia fazer uma “queixa”contra extraterrestres. Nota-se que, junto com a Exopolítica, emerge a necessidade de um Exodireito, a regular as interações entre a nossa civilização e a de outros planetas (TASCA, 2016).
A civilização de Acart está longe de parecer má, mas o seu modo de agir revela que as civilizações menos éticas teriam facilidade em vir à Terra e aqui conseguir o que desejam, sem que a humanidade soubesse de coisa alguma. E mesmo civilizações éticas podem cometer erros passíveis de correção. A captura de Berlet, como se viu, foi considerada uma atitude equivocada do comandante da espaçonave, que queria levar para o seu planeta um produtor que entendesse do cultivo de trigo. Isso feriu as normas de conduta do planeta, que não admite a abdução de seres humanos, motivo pelo qual o capitão foi condenado em Acart. Se o próprio planeta extraterrestre reconheceu que foi um equívoco que merecia punição, a própria Terra poderia reivindicar uma reparação, pois, afinal, em termos práticos, o que houve foi o “sequestro” de um ser humano, que teve assim vários dos seus direitos violados. Mas, como se sabe, a Terra ainda não se organizou politicamente para que tenha voz em negociações interplanetárias. Talvez seja hora de pensarmos nisso.
Afinal, é preciso ter em mente que, não fosse a constatação de que Berlet tinha baixa instrução, ele seria forçado a ficar em Acart para sempre, ou seja, os alienígenas teriam tomado um ser humano e o apartado da sua vida e das pessoas com que convivia aqui na Terra. Só temos notícias dos casos de abdução em que houve o retorno da pessoa transportada, mas é de se imaginar quantos houve que ficaram para sempre nos planetas para os quais foram levados, talvez contra a vontade, pois Berlet também não tinha vontade de ficar e, no entanto, poderia ter sido forçado a ficar. Se isso acontecia na década de 1950, presume-se que continua acontecendo, o que demonstra a necessidade de a Terra agir politicamente o quanto antes.
Chama a atenção também que os acartianos tenham interesse direto na própria ocupação da Terra, mas apenas depois que a humanidade tenha praticamente se autodestruído. Mesmo sofrendo com a superpopulação e com a escassez de alimentos, problemas que poderiam ser resolvidos na Terra, os habitantes de Acart não consideram a possibilidade de invadir o nosso planeta, pois isso parece contrariar o seu código de conduta. Seria até fácil para eles conquistar a Terra, pois, como foi relevado a Berlet, os acartianos possuem um neutralizador de raios solares capaz de acabar com a vida de um planeta rapidamente. Mas nem mesmo a necessidade é vista como justificativa para ocupar um planeta habitado, o que sugere que há certos princípios universais respeitados exemplarmente pelas raças éticas.
Infelizmente para nós, porém, outro desses princípios parece ser o de não interferência mesmo se a humanidade buscar a sua própria destruição. Contrariamente à civilização que se apresentou a Rossi, a de Acart não deu conselhos e nem fez alertas sobre os rumos tomados pela humanidade. Eles, em verdade, parecem dar como certo que, cedo ou tarde, os seres humanos provocarão o seu próprio fim, quando então aproveitarão o planeta deixado por nós. Nota-se, portanto, que a conduta de Acart revela neutralidade, pois, se é verdade que não agirão para tomar conta da Terra, também é verdade é que não impedirão que o ser humano se autodestrua.
É interessante observar que, quando indagado por Berlet a respeito da sua crença em Deus, Acorc se mostrou ofendido, aparentemente não aceitando que alguém colocasse em dúvida coisa tão óbvia como o fato de existir um Deus. De fato, os acartianos acreditam em Deus e é com base na sua crença que não cometem atos como a ocupação de outros planetas, pois entendem que isso constituiria uma ofensa ao Criador. A crença em Deus é também mencionada no relato de Rossi, o qual visitou uma civilização em que há igrejas e se acredita na eternidade da vida e em sua origem divina.
Como também entre nós, aqui na Terra, a crença em Deus e o seu uso para orientar condutas morais é largamente difundida, a impressão que se tem é que se trata de um princípio universal, daqueles que Webre (2012) sustenta existir de modo natural em todas as civilizações do Cosmos. Deus seria então a fonte criadora do senso de moral que acompanha a vida inteligente por todo o Universo e que norteia as normas e as regras de uma organização de alcance cósmico. A Terra estaria em um estágio inferior de compreensão dessa realidade, mas os humanos já carregariam dentro de si a consciência dos valores que seriam cultivados em um contexto universal.
A organização da sociedade de Acart apresenta similaridades com a do planeta visitado por Rossi. Também o mundo acartiano, afinal, preza pela igualdade entre os seus habitantes e todos podem desfrutar livremente de todos os serviços e produtos existentes no planeta, pois não há dinheiro ali. Tal método de organização da sociedade, se bem que distante ainda da nossa realidade, pode significar um caminho natural a todas as civilizações. Uma organização interplanetária como a prevista por Webre se pautaria, em tese, por esses mesmos critérios de igualdade e acessibilidade geral.
Curiosamente, o “Filho do Sol”, governante do planeta Acart, sugere que Berlet escreva sobre o que viu no planeta, pois está convencido de que as gerações futuras saberão aproveitar um conteúdo que, naquela década de 1950, pareceria absurdo à maioria dos habitantes da Terra. Essa sugestão dá a entender que a consciência sobre as múltiplas civilizações existentes no Universo é também um caminho natural às espécies inteligentes. A partir de determinado grau de evolução moral e tecnológica, uma civilização seria capaz de descobrir que não está sozinha no Cosmos e então interagiria com outras civilizações. Conforme essa realidade se aproxima, os extraterrestres dariam sinais da sua presença, em um processo previsto pela Exopolítica.
O ideal, contudo, é que a Terra evolua o suficiente para evitar a sua própria autodestruição, ainda que isso frustre os planos de Acart a respeito do nosso planeta. O desenvolvimento da Exopolítica e do Exodireito, nessa perspectiva, pode ser vital para a própria sobrevivência da espécie humana.
Preparando-se para a nova realidade
As experiências notáveis que tiveram esses três brasileiros na década de 1950, conquanto tenham as suas particularidades, favorecem a tese de que há múltiplas civilizações no Cosmos, o que é um pressuposto da Exopolítica. Do mesmo modo, sugere-se que a hipótese alienígena é verdadeira em muitos casos de avistamentos de UFOs, como a Ufologia tem sustentado há muito tempo, uma vez que todos os casos envolveram a viagem de seres humanos em artefatos de origem extraterrestre.
O fato de as experiências ufológicas não se-limitarem mais a avistamentos no céu, passando a abranger inclusive viagens em “discos voadores” e visitas a outros planetas, é indício de um possível processo de aclimatação da humanidade ao contexto cósmico. A Terra, nesse sentido, estaria aos poucos deixando o seu período de “quarentena”, como se refere Webre (2012), ao nosso isolamento estelar.
Essa reaproximação parece consequência da capacidade tecnológica de uma civilização, mas as intervenções verificadas nos relatos de Rossi e Guimarães evidenciam que o nosso planeta ainda não conseguiu o grau de maturidade necessário para lidar com os seus problemas internos. Afinal, foram feitos alertas sobre o modo como os humanos estavam conduzindo os seus negócios na Terra, prejudicando a si mesmos e ao planeta, situação tão grave que, como se depreende do relato de Berlet, há povos só esperando algo acontecer para que possam se instalar oficialmente aqui.
O fato de serem vislumbradas várias civilizações espaciais sugere que exista entre elas algum tipo de organização, como também sustenta a Exopolítica. De fato, se extraterrestres interagem com a Terra, certamente também interagem entre eles e, como possuem interesses variados, é de se imaginar que tenham criado alguma forma de regular as suas atividades sem que nenhuma civilização saia prejudicada. É possível que já exista uma estrutura organizacional interplanetária à qual a Terra irá integrar, na medida em que tome conhecimento do seu papel no esquema do Universo.
Essa reunião de diferentes civilizações planetárias só é possível se pensarmos que hávalores em comum entre todas elas. Os relatos mencionados fazem crer que há uma tendência moral convergente entre os povos do Cosmos, em direção à paz, por exemplo, e ao menos duas das civilizações citadas praticam a igualdade entre todos os seus habitantes. São valores comuns também à Terra, a qual apenas não teria alcançado ainda o grau de evolução necessário para vivenciar esses ideais na prática. De todo modo, as experiências relatadas favorecem a tese de Webre (2012) de que há valores universais que as civilizações aprendem pela razão.
Ao mesmo tempo, a existência de civilizações com armamentos dos mais poderosos mostra que nem todos os extraterrestres estão dispostos a seguir aquilo que, em tese, ditaria a moral universal. Mais do que nunca, mostra-se fundamental seguir a orientação de Salla (2012) para distinguir as civilizações éticas das não éticas, pois os dois tipos poderiam interagir com a humanidade, mas um deles nos traria resultados danosos. A distinção sugerida só será possível com o estudo contínuo e sistemático de tudo o que diga respeito a possíveis civilizações de outros planetas. Evidentemente, isso deve ser feito de forma aberta, não em conchavos de líderes mundiais.
Nenhuma das civilizações que se apresentaram aos três brasileiros parece estar envolvida em algum dos misteriosos acordos comautoridades dos EUA, mas a própria liberdade que demonstraram ao agir no nosso planeta revela quenão seria muito difícil a alguma espécie alienígena entrar em nosso planeta e fazer experiências prejudiciais e violadoras de direitos humanos, como se imagina que são aquelas feitas sob a chancela de lideranças norte-americanas. Urge, portanto, que o tema seja tratado de forma aberta por toda a humanidade e que se comece a pensar em estratégias de organização política para essa nova realidade.
Certamente, a resposta bélica não é a mais indicada. De nada adianta enviar caças militares para tentar derrubar discos voadores se os alienígenas têm uma tecnologia tão avançada a ponto de bloquear os raios solares e assim acabar com todo rastro de vida planetária. A humanidade está realmente em uma condição desfavorável em relação a essas civilizações, mas não parece estar desamparada, pois há raças que demonstram preocupação com o nosso destino. Qualquer resposta que a humanidade possa dar aos extraterrestres passa pela nossa organização, a qual só será possível se nos debruçarmos atentamente sobre todas as evidências que já pudemos colher.
Mostra-se fundamental que arquivos sejam abertos e que governos exponham tudo aquilo que já é sabido a respeito da vida alienígena, pois esse é o passo inicial para que a humanidade passe a tomar conhecimento da realidade universal e comece a pensar em estratégias para se posicionar nesse novo contexto. Esse esforço tende a beneficiar toda a humanidade, pois não apenas estaremos em melhores condições no relacionamento entre os planetas como poderemos aprender com civilizações mais avançadas e assim nos aproximarmos do cenário de bem-estar que elas já vivenciam.
Algumas palavras merecem ser ditas ainda a respeito da telepatia. As civilizações que se apresentaram a Rossi e a Guimarães dominavam essa forma de comunicação, mas não a que se apresentou a Berlet. De fato, foi preciso que Berlet e Acorc se comunicassem em alemão, do contrário não teriam se compreendido. Isso talvez sugira que Acart ainda não estivesse no grau máximo da sua evolução, inobstante já fosse capaz de enviar espaçonaves a outros planetas. A comunicação via pensamento representa uma revolução a qualquer sociedade que a desenvolve, mudando de forma completa a forma como as pessoas se relacionam. Se essa também é uma potencialidade de todas as civilizações do Universo, convém que também a humanidade considere essa possibilidade e os seus possíveis efeitos.
Certamente, é um mundo muito diferente quenos aguarda a partir do momento que a Terra esteja inserida em um contexto estelar maior. Osrelatos desses três brasileiros abduzidos na década de 1950 oferecem vislumbres do que a humanidade poderá ter pela frente. É chegada a hora de dar passos decisivos na direção dessa nova realidade, sendo que o avanço de novas áreas como a Exopolítica e o Exodireito podem permitir que essa transição ocorra da forma mais propícia e segura para os interesses da humanidade.
Referências
BERLET, Artur. Os discos voadores: Da utopia à realidade. Rede Regional de Jornais, Sarandi, 2010.
EQUIPE UFO. Uma viagem no disco voador. Revista UFO, São Paulo, Ed. 175, mar. 2011. Disponível em: https://ufo.com.br/artigos/uma-viagem-no-disco-voador. Acesso em: 06 mai. 2021.
GUIMARÃES, Ylves José de Miranda. Direito natural: visão metafísica e antropológica. Rio de Janeiro: Forense Universitária, 1991.
MAUSO, Pablo Villarrubia. Antonio Rossi: “Num disco voador visitei outro planeta”. Respostas da Luz, São Paulo, 12 abr. 2011. Disponível em: <https://respostadaluz.blogspot.com/2011/04/antonio-rossi-num-disco-voador-visitei.html>. Acesso em: 06 mai. 2021.
SALLA, Michael. Exposición de las políticas del gobierno USA sobre la vida extraterrestre: Los retos de la Exopolítica. Hawaii: Instituto de Exopolítica, 2012.
TASCA, Flori Antonio. Da Exopolítica ao Exodireito. Revista ExoCiência, Instituto Mukharajj, Rio de Janeiro, Ano 2, v. 2, jun. 2016.
WEBRE, Alfred Lambremont. Exopolítica: La política, el gobierno y la ley en el Universo.Málaga: Ediciones Vessica, 2012.