Como a poeira espacial pode revelar vida extraterrestre
Uma das maiores questões da ciência e da filosofia é se estamos sozinhos no universo. Existem outros planetas que abrigam formas de vida semelhantes ou diferentes de nós? Como podemos detectá-los e nos comunicar com eles?
Estes são alguns dos desafios que os astrobiólogos enfrentam em sua busca por sinais de vida extraterrestre.
Tradicionalmente, existem duas abordagens principais para procurar vida alienígena: procurar sinais de civilizações inteligentes, como ondas de rádio ou raios laser; e busca de bioassinaturas, como oxigênio ou metano, nas atmosferas de exoplanetas.
No entanto, ambos os métodos têm suas limitações e incertezas. Os sinais podem ser raros, fracos ou ambíguos; e as bioassinaturas podem ter explicações não biológicas ou serem obscurecidas por nuvens ou poeira, relata theregister.com .
Mas e se houvesse outra maneira de encontrar evidências de vida alienígena? E se pudéssemos examinar minúsculos pedaços de rocha que vieram de outros mundos e continham vestígios de atividade biológica?
Esta é a ideia proposta pelo professor Tomonori Totani, da Universidade de Tóquio, em um artigo recente publicado no International Journal of Astrobiology.
Totani sugere que poeira espacial e detritos de outros planetas podem carregar sinais de vida através de distâncias interestelares. Ele argumenta que quando um grande asteróide impacta um planeta com vida, ele pode ejetar algum material no espaço com velocidade suficiente para escapar da gravidade de sua estrela hospedeira.
Parte desse material pode ser pequeno o suficiente (cerca de um micrômetro) para hospedar microorganismos ou fósseis, mas grande o suficiente para sobreviver às duras condições do espaço.
De acordo com os cálculos de Totani, até 100.000 pedaços de partículas de poeira portadoras de vida podem atingir a Terra todos os anos. Ele estima que cerca de 10% dessas partículas sobreviveriam à entrada na atmosfera e pousariam na superfície do nosso planeta. Se pudéssemos coletar e analisar essas partículas, poderíamos encontrar pistas sobre formas de vida alienígenas que existiram milhões ou bilhões de anos atrás em mundos distantes.
“Dado que há muitas incógnitas envolvidas, essa estimativa pode ser muito alta ou muito baixa, mas os meios para explorá-la já existem, então parece uma busca que vale a pena”, disse Totani.
Essa ideia não é totalmente nova. De fato, alguns cientistas sugeriram que a própria vida na Terra pode ter se originado da poeira espacial trazida por cometas ou asteroides.
Além disso, já encontramos meteoritos de Marte na Terra que contêm moléculas orgânicas e possíveis sinais de atividade microbiana antiga. No entanto, a proposta de Totani vai além do nosso sistema solar e considera a poeira interestelar como uma fonte potencial de informações sobre a vida extraterrestre.
Claro, há muitos desafios e incertezas envolvidos nesta abordagem. Por um lado, seria muito difícil distinguir entre partículas de poeira terrestres e extraterrestres sem instrumentos e técnicas sofisticadas.
“Partículas extrassolares espalhadas por planetas gigantes e depois ligadas ao Sistema Solar podem ser difíceis de distinguir das partículas ejetadas da Terra, mesmo que contenham bioassinaturas”, disse Totani no artigo. “Procurar partículas com origem fora do sistema solar é como procurar grãos de areia que caíram no deserto”, acrescentou.
Por outro lado, seria difícil confirmar se quaisquer assinaturas biológicas encontradas nessas partículas são genuínas ou contaminadas por micróbios terrestres ou produtos químicos. Além disso, seria impossível saber exatamente de onde vieram essas partículas ou quantos anos elas têm sem mais informações sobre sua origem e trajetória.
No entanto, Totani acredita que vale a pena explorar sua ideia como um método complementar aos existentes. Ele espera que seu artigo estimule mais pesquisas e discussões sobre esse tópico entre astrobiólogos e astrônomos.
Ele também acha que sua ideia pode inspirar missões futuras para coletar amostras de poeira interestelar para análise.
Totani disse: “Se houver sinais de vida nos grãos de poeira, não apenas podemos ter certeza, mas também podemos descobrir em breve”.
O artigo pode ser encontrado no Journal of Astrobiology.